27.12.09

Mais esta noite


Ela, sem ao menos bater, entra de uma forma despreocupada e estira-se na poltrona.
Ele, ao vê-la uma vez mais, exclama furioso:
-Já não disse que não a quero aqui?!
E ela, de forma espontânea com os olhos vidrados na TV parecendo não ouvir o que ele acabara de dizer, responde com um prazer estampado no canto dos lábios:
-Não reclame, foi você quem provocou minha vinda...
-Mas o que eu fiz dessa vez? – diz ele confuso
-Pensou nele mais uma vez! – responde ela dando continuidade a mais uma discussão.
Ele, decepcionado com a resposta, responde:
-Mas eu não sei mais o que fazer... Quando ele não está aqui sinto um vazio tão grande dentro de mim...as coisas parecem sair do ritmo...
Ela, levanta-se em pulo e com sorriso nos olhos diz:
- É simples, não bata mais por ele...cale-se, controle-se e deixe de pulsar...
Ele olha repentinamente para ela com os olhos lacrimosos – Eu não posso...não consigo... Ele é o que me mantêm pulsando, se...se não pensar nele, sim, eu me calarei, mas perderei meu ritmo e morrerei...ele é o meu ritmo...
-Então o encontre! – diz Ela após alguns segundos refletindo sobre as palavras que acabara de ouvir.
Ele vira-se de costas, abaixa a cabeça e responde entre as lágrimas que escorrem por seu rosto – Não, também não posso...sinto que ele já não bate mais por mim...seu som parece desacelerar-se, já não posso ouvi-lo com a mesma intensidade...Talvez esteja interessado por outro...
Ela ri do que ouvi e levanta-lhe o rosto com uma das mãos, enxuga suas lágrimas e lhe fala:
- Não diga isso...não é verdade, se seu som já desacelera é porque estás a perder o controle ao seu lado...se sua intensidade diminui é tentando encontrar a sua...
Uma última lágrima lhe escorre pelo rosto e um brilho escapa de seus olhos – Será isso?
Ela sem hesitar em suas palavras responde:
- Tenho certeza... E se algum dia não escutares mais o som dele, saiba que ele morre por ti...
O Coração sorri para a Saudade e abraça-a, um abraço apertado, confiante... Por saber que a terá sempre por perto para consolar-lhe quando ele não mais estiver ao seu lado.
O abraço termina e o Coração recua, voltando-se para a porta, com as chaves em mãos, tranca-a, vira-se à Saudade e diz:
- Ficarás mais está noite comigo?!

Loucura Inocente

Eu sei que sou considerada louca em um mundo onde sapatos valem mais do que pessoas. Sinto que há um sentido maior do que dinheiro nessa roda gigante. Ser feliz deve ser muito mais do que ter uma conta bancaria invejável. Felicidade talvez seja o agora não valorizado ,o abraço apertado,o sorriso inesperado. Talvez ela se traduza em uma boa gargalhada e em guerra de almofadas. Se eu fosse a dona do mundo decretaria que todos os dias seriam sábados ensolarados! Como são incríveis os sábados ensolarados...
Aqueles em que as horas passam e a gente nem percebe...ou mudaria o clima para aumentar os dias chuvosos, aqueles que parecem intermináveis..mas sem querer acabam e na pia da cozinha restam-se apenas vestígios dos louváveis bolinhos de chuva de uma avó dedicada.Dias bons esses...saudades dos bolinhos...mas ainda mais da presença de pessoas importantes como ela, o tipo de pessoa que está sempre ali apoiando suas idéias mais ignorantes e loucuras freqüentes. Talvez eu não seja a única louca,ou até mesmo,eu seja a única normal, a não ser que neste mundo seja considerada loucura o fato de preencher-se com coisas simples e de sorrir com a mais insignificante das coisas, aquelas em que os “loucos” nem reparam e que, talvez, caracterize a diferença entre um espírito carregado de sonhos e loucuras, e aquele preenchido apenas pelo vazio inoperante em sua alma...
Créditos ao meu "Livro de Cabeceira" que compartilhou suas idéias comigo: Larissa de Mello Lima.

http://twitter.com/larimellolima
"O cenário mudava constantemente mas nada de diferente, árvores,fazendas,bezerros e...árvores. Foi quando meu pai disse: -Olha a floresta do Pé-Grande...! Chamou-me a atenção.
Eu vi a casa do Pé-Grande!...é, aquela das histórias infantis. E pensando bem, acho que me pareço com ele...
...ahh, sabe...ele vive sozinho naquela floresta impenetrável com árvores gigantes e passagens escuras... eu também tenho a minha. Sei que se esconde de todos por medo...Sim, ele tem medo...medo do mundo lá de fora, das pessoas, do frio, da solidão, das mudanças...Ehh, realmente me sinto o Pé-Grande, o monstro da história...Mas chega uma hora em que não podemos mais nos esconder em meio às árvores, temos que deixar a floresta, encarar a luz que brilha lá fora, esquecer o nosso lado monstro.
Simm, o Pé-Grande tem o pé grande, mas eu também tenho defeitos e "todo o resto"...o resto não importa?!
E se ele quiser outro papel na história? E se ele quiser ser o mocinho, é...eu posso ser a Cinderela e ele pode ser um príncipe, nós podemos mudar tudo...escrever a nossa própria história com um final feliz. Quanto ao mundo fora da floresta... Pessoas nos farão bem, o sol nos aquecerá, não ficaremos sozinhos e mudanças acontecerão.. Só depende do rumo que nós queremos dar à história...basta começarmos a escrever...
Acho que já comecei a minha..."

Quebra-Coração

Para que servem corações se não para quebrarem-se diversas vezes...milhões de pedaços... e nós, meros mortais, continuemos a tentar reconstruí-los por vezes mais?!

Montar esse quebra-cabeça...a dor de mais uma peça permanece entalada, não sabe se soma-se aos demais pedaços ou permanece no caminho...pode ser esta a peça final, se não for, é apenas mais uma das tantas do jogo...

...daqui a pouco desentala...a gente empurra pra dentro, de qualquer jeito mesmo...a peça pode ser chave mas não para esta jogada ou para este jogo.

Dúvida constante...jogo complexo esse, regras?...ninguém as tem, como ganhar?...ninguém o sabe, a ele um só momento vale...agora...Quando parar ou o final do jogo?...só a ele cabe...amanhã.

"Quebra-Coração"...fraco é aquele que desiste do jogo...uma peça se perde e já é descartado, logo se descobre, aquele foi apenas mais um jogo... mais um coração perdido.