26.1.11

"Já esperava."

'Eu digo. Capaz até de pensar "Já me acostumei". Mas de que adianta me enganar. É mentira. Não há como me deixar escapar tamanha mentira. Ele não deixa. O Coração.
Queria ser capaz, realmente, de me acostumar com a ausência das pessoas.
Queria ser capaz de me acostumar com a saudade... com o vazio que a abstinência delas me causam. Ser alheia às lembranças... aos calafrios do coração.
Queria superar o que as palavras me causam, ser maior que elas.
Queria não me lembrar delas para não ter de secar as lágrimas que escorrerão depois.
Queria que meu coração acreditasse quando minha razão diz que esqueceu.
Queria me convencer da felicidade ou, ao menos, ter a coragem de dizer o que eu sinto de verdade.
Queria ser capaz de viver, como os tolos, sustentada pela falsa sensação de amnésia sentimental, enganar a mim mesma. Acreditar em minha própria mentira.
Queria poder contar às estrelas o quanto sinto a falta de alguém sem que ninguém me cutucasse e coxixasse em meu ouvido: " elas não te ouvem, são estrelas... "
Queria poder reviver momentos, rever pessoas...poder convidar para sentar comigo ao luar aqueles que agora apenas brilham com as estrelas.
Queria poder pedir em minhas orações que desse o melhor sem o medo de não ser eu o melhor.
Queria poder dizer o quanto eu sinto falta de ter alguém que possa me abraçar com a inocência de um anjo e a pureza de uma criança. Sem me preocupar com a malícia do mundo.
Queria poder ter só pra mim todos os sonhos do mundo sem me culpar por julgarem "Como ela é egoísta!"
Queria acordar desse mundo de regras que me impede de dizer "Tah bom, vai lá. Continue fingindo que está feliz enquanto eu finjo que te esqueci!"
Mas ele não deixa. O Coração. '

24.2.10

Desabafo de um Anjo Imperfeito


Os anjos sempre foram vistos como criaturas encantadoras.Tudo se encaixa em sua doce imagem. A eterna criança de asas brancas. O rostinho sereno marcado pela inocência infantil, parecido talhado a mãos. O toque da malícia dos maiores escondido nos lábios. O nimbo logo acima da pequenina cabeça pintando a figura santificada do habitante mais alto dos céus. Sempre foi assim.
Mas o que a maioria dos humanos não sabe é que os anjos também cometem erros. Essas inocentes crianças, apesar da aparência, agem como meros humanos, mas com uma pequena diferença na forma como encaram os fatos. A tamanha inocência que esses lindos seres carregam não os permite ver a maldade em seus atos. Agem por impulso e simplesmente não enxergam o que podem causar na visão desses instintivos humanos. A malícia que ocupa seus lábios não é a mesma que habita os corações humanos. Para estes, a malícia tem a mesma docilidade e esperteza da travessura cometida por uma criança levada. Apenas da graça à brincadeira.
Antes do dia de ontem um anjo procurava por alguém que estivesse disposto a se apaixonar por uma criança com asas, o coração flutuante e uma mente inconseqüente quando sofreu uma queda. Os anjos também caem. Ele queria tanto alguém que o amasse que acabou por tropeçar em seu próprio egoísmo. Uma de suas asas estava quebrada. Os anjos também possuem dias ruins. Aquele era um deles para este.
Sabe, uma das coisas ruins em ser um anjo é ter que aceitar seus erros sozinhos. Os anjos são seres muito só. Eles não têm com quem compartilhar suas angustias. Quem iria ouvir um anjo? Quando caem, devem se levantar com suas próprias forças. Seus machucados, cicatrizados com suas próprias lágrimas. Estas têm poder de limpar os corações mais tristes.
Aquela felicidade estampada em seus rostos é fruto da esperança que carregam consigo. Eles não se deixam abater pelos joelhos machucados ou por corações quebrados. Apenas choram, esperam cicatrizar, ajeitam suas volumosas asas e voam novamente. Não desistem. Sempre voltam a voar. O céu é o lugar deles. Os arrependimentos são muitos. Mas não há quem lamente por suas quedas ou quem acalente suas preciosas asas quebradas.
É difícil ser um anjo. É triste para eles desmentirem a imagem de que são perfeitos. Até mesmo essas criaturinhas erram. É difícil explicar aos humanos o quanto imperfeito são. Confessarem seus fracassos. Demonstrar seus sentimentos. Acima de tudo porque ninguém os escutará.
Ninguém escuta um anjo imperfeito, ninguém nunca escuta.

9.1.10

Tatuagem

Um dia desses estava a fazer nada em casa. As coisas fluíam estranhamente desde aquele dia. O cansaço, diante daquela situação, começava a me tomar e cheguei a pensar várias vezes em desistir e esquecer aquilo tudo mas sabia que não podia fazer isso, já estava intrinsecamente ligado a mim, já não havia solução. Mas naquela tarde senti uma pontada de esperança ao despertar de um sonho durante minha soneca diária. Estirei-me em um salto do sofá e pus-me de pé. Risos cuidavam para que a brilhante idéia não se esvaísse daquela cabecinha avoada enquanto aprontava-me para deixar minha casa rumo à solução para meu problema.
Subi até meu quarto, vesti meu velho casaco cinza, calcei meu All-Star sujo. Descia a escada quando me lembrei de meus cabelos. Voltei, prostei-me em breves 30 segundos em frente ao espelho, pus em Coque meus cabelos, joguei uma água no rosto e sai.
O curto caminho até o centro comercial do Bairro, que sempre me pareceu uma eternidade naquele dia encurtou-se em meio à excitação que já estava a ponto de explodir-me por dentro.
Cheguei em frente ao estabelecimento e um letreiro acima denominava o local com letras garrafais como “Studio P.H.” e logo abaixo, letras discretas informavam “Body Piercing e Tatuagem”. Naquele dia notei que nunca havia reparado na fachada daquele lugar, sempre passava por ali mas nunca fui capaz de desviar alguns segundos, se quer, o meu olhar para qualquer faixa que não pertencesse aos meus pensamentos flutuantes... Eles sempre foram mais interessantes.
Entrei no lugar, e aquele cheiro de álcool misturado com um odor típico de hospitais e clínicas odontológicas invadiu meus pulmões. Aquilo sempre me causara repugnância, minha aversão a hospitais e minha baixa afinidade com agulhas evidenciava-se em minha resistência a freqüentar esse tipo de local. Mas naquele dia minhas esperanças foram capazes de tornar falho meu apurado olfato e não senti qualquer reação ao odor inalado.
O local encontrava-se vazio e o Tatuador, apesar de examinar-me com olhos descrentes, atendeu-me. Após aquela famosa pergunta de vendedor - O que deseja? – Lhe disse:
-Estou interessada em fazer uma tatuagem...
Ele de pronto perguntou:
-Já tem idéia do desenho?
-Sim, eu quero uma borboleta...- Disse entre o sorriso esperançoso que dominava meus lábios.
E ele, me interrompendo, questionou outra vez:
- Sabe em que local do corpo será?
Eu, sentindo a explosão em meu coração cada vez mais forte, disse-lhe, enquanto disfarçava olhando para o mural de fotos ao lado da porta que dava para a sala de procedimentos:
- Quero-a em meu coração...
O Tatuador, achando estranho o pedido, virou-se para mim com uma curiosidade no olhar e sem hesitar perguntou-me:
- Toda tatuagem tem um significado, qual seria o significado para a sua?
Eu, me virei para ele e, agora, afrouxando o sorriso escondido em meus lábios, olhei em seus olhos curiosos e respondi satisfeita:
- Eu quero tatuar uma borboleta em meu coração para que ele crie asas e voe,voe...voe e se liberte, enfim, desse peito que o mantém refém.

5.1.10

Súplica Oculta

Ela se perguntava diariamente se as coisas eram confusas apenas para ela. Não conseguia entender. Em seu coração as coisas sempre se mostravam embaralhadas, sua caixinha de sentimentos parecia chacoalhar a cada palavra que ele dizia. Seu coração havia sido colocado de “cabeça pra baixo”, disso ela já tinha certeza, não era normal a bipolaridade sentimental em que vivia.
Ouvia sua voz e Claves de Sol soavam de seu coração. Quando ele desaparecia, seus sentimentos saltavam da caixinha e o vazio era seu único companheiro. Às vezes o eco de algumas saudades ficava, para a sua felicidade, mas logo fugia da caixinha também e a pobre e confusa menina encontrava-se mais uma vez com os sentimentos revirados.
Procurava entender porque ele esquecia-se dela com tanta frequência. Não, ele não possuía sentimentos revoltos, eles eram bem treinados, não fugiam de sua caixinha, era o que ela achava e a idéia que persistia em sua brilhante cabecinha era a de que ele esquecia-se dela para que seus sentimentos ficassem longe dela - a convivência com os dela poderia torná-los revoltos também. Mas depois de algumas horas a perder-se em sonhos e ilusões, chegava à conclusão de que seus sentimentos também poderiam ser revoltos, assim como os dela, afinal eram tão parecidos, e quando fugiam de sua caixinha o único resistente era o “esquecer”, que sempre ficava para trás, detendo a caixinha só para ele, e tudo se explicava.
Ela não queria que as coisas fossem assim. Ela provocava seus sentimentos. Quando ouvia sua voz estática do outro lado preocupava-se. Seu coração pedia que ele fosse um boneco de pano – iria pegá-lo em seus braços e chamá-lo de seu bebê, cuidaria para que estivesse bem, sempre ao seu lado, sob seus aconchegantes olhos.
O medo de que suas preocupações se mostrassem maternalistas demais confundia seus pensamentos. E como fazia já com alguma frequência, depois de horas revirando seus pensamentos, sempre concluía que não gostaria de ser sua mãe ou sua dona.
Se fosse sua mãe, iria alimentá-lo, niná-lo e protegê-lo com toda sua alma, mas sabia que estaria criando-o para o mundo e não apenas para si mesma, seu egoísmo não permitiria tal façanha. Se fosse um pedaço de pano com pregas e botões, tê-lo-ia consigo para a eternidade, remendá-lo-ia e cuidaria para que estivesse sempre em ótimo estado, mas ela sabe que seria apenas sua dona e nada mais. Tê-lo-ia mas sem palavras, qualquer sentimento ou o som de seu coração, seria apenas ela e pedaços de pano. A parte em que o teria em seus braços para a eternidade muito lhe agrada, mas não haveria motivos para isso. Não sem o sangue circulando e pulsando seu coração.
Mas o pior é que, sempre depois de suas súplicas ocultas e divagações desnecessárias, ela sabe o quão
em vão isso tudo é, sabe que não há o que entender, sempre soube, são apenas sentimentos, sentimentos revoltos, não se pode explicar sentimentos, pode apenas sentí-los ou sonhar com eles - sim - sonhar com o dia em que ele lha ajudará a encontrar novamente seus sentimentos e juntos cuidarão para que não que não fujam mais, para que voltem a ser apenas sentimentos, aqueles velhos sentimentos, sentimentos presos em uma caixinha.

27.12.09

Mais esta noite


Ela, sem ao menos bater, entra de uma forma despreocupada e estira-se na poltrona.
Ele, ao vê-la uma vez mais, exclama furioso:
-Já não disse que não a quero aqui?!
E ela, de forma espontânea com os olhos vidrados na TV parecendo não ouvir o que ele acabara de dizer, responde com um prazer estampado no canto dos lábios:
-Não reclame, foi você quem provocou minha vinda...
-Mas o que eu fiz dessa vez? – diz ele confuso
-Pensou nele mais uma vez! – responde ela dando continuidade a mais uma discussão.
Ele, decepcionado com a resposta, responde:
-Mas eu não sei mais o que fazer... Quando ele não está aqui sinto um vazio tão grande dentro de mim...as coisas parecem sair do ritmo...
Ela, levanta-se em pulo e com sorriso nos olhos diz:
- É simples, não bata mais por ele...cale-se, controle-se e deixe de pulsar...
Ele olha repentinamente para ela com os olhos lacrimosos – Eu não posso...não consigo... Ele é o que me mantêm pulsando, se...se não pensar nele, sim, eu me calarei, mas perderei meu ritmo e morrerei...ele é o meu ritmo...
-Então o encontre! – diz Ela após alguns segundos refletindo sobre as palavras que acabara de ouvir.
Ele vira-se de costas, abaixa a cabeça e responde entre as lágrimas que escorrem por seu rosto – Não, também não posso...sinto que ele já não bate mais por mim...seu som parece desacelerar-se, já não posso ouvi-lo com a mesma intensidade...Talvez esteja interessado por outro...
Ela ri do que ouvi e levanta-lhe o rosto com uma das mãos, enxuga suas lágrimas e lhe fala:
- Não diga isso...não é verdade, se seu som já desacelera é porque estás a perder o controle ao seu lado...se sua intensidade diminui é tentando encontrar a sua...
Uma última lágrima lhe escorre pelo rosto e um brilho escapa de seus olhos – Será isso?
Ela sem hesitar em suas palavras responde:
- Tenho certeza... E se algum dia não escutares mais o som dele, saiba que ele morre por ti...
O Coração sorri para a Saudade e abraça-a, um abraço apertado, confiante... Por saber que a terá sempre por perto para consolar-lhe quando ele não mais estiver ao seu lado.
O abraço termina e o Coração recua, voltando-se para a porta, com as chaves em mãos, tranca-a, vira-se à Saudade e diz:
- Ficarás mais está noite comigo?!

Loucura Inocente

Eu sei que sou considerada louca em um mundo onde sapatos valem mais do que pessoas. Sinto que há um sentido maior do que dinheiro nessa roda gigante. Ser feliz deve ser muito mais do que ter uma conta bancaria invejável. Felicidade talvez seja o agora não valorizado ,o abraço apertado,o sorriso inesperado. Talvez ela se traduza em uma boa gargalhada e em guerra de almofadas. Se eu fosse a dona do mundo decretaria que todos os dias seriam sábados ensolarados! Como são incríveis os sábados ensolarados...
Aqueles em que as horas passam e a gente nem percebe...ou mudaria o clima para aumentar os dias chuvosos, aqueles que parecem intermináveis..mas sem querer acabam e na pia da cozinha restam-se apenas vestígios dos louváveis bolinhos de chuva de uma avó dedicada.Dias bons esses...saudades dos bolinhos...mas ainda mais da presença de pessoas importantes como ela, o tipo de pessoa que está sempre ali apoiando suas idéias mais ignorantes e loucuras freqüentes. Talvez eu não seja a única louca,ou até mesmo,eu seja a única normal, a não ser que neste mundo seja considerada loucura o fato de preencher-se com coisas simples e de sorrir com a mais insignificante das coisas, aquelas em que os “loucos” nem reparam e que, talvez, caracterize a diferença entre um espírito carregado de sonhos e loucuras, e aquele preenchido apenas pelo vazio inoperante em sua alma...
Créditos ao meu "Livro de Cabeceira" que compartilhou suas idéias comigo: Larissa de Mello Lima.

http://twitter.com/larimellolima
"O cenário mudava constantemente mas nada de diferente, árvores,fazendas,bezerros e...árvores. Foi quando meu pai disse: -Olha a floresta do Pé-Grande...! Chamou-me a atenção.
Eu vi a casa do Pé-Grande!...é, aquela das histórias infantis. E pensando bem, acho que me pareço com ele...
...ahh, sabe...ele vive sozinho naquela floresta impenetrável com árvores gigantes e passagens escuras... eu também tenho a minha. Sei que se esconde de todos por medo...Sim, ele tem medo...medo do mundo lá de fora, das pessoas, do frio, da solidão, das mudanças...Ehh, realmente me sinto o Pé-Grande, o monstro da história...Mas chega uma hora em que não podemos mais nos esconder em meio às árvores, temos que deixar a floresta, encarar a luz que brilha lá fora, esquecer o nosso lado monstro.
Simm, o Pé-Grande tem o pé grande, mas eu também tenho defeitos e "todo o resto"...o resto não importa?!
E se ele quiser outro papel na história? E se ele quiser ser o mocinho, é...eu posso ser a Cinderela e ele pode ser um príncipe, nós podemos mudar tudo...escrever a nossa própria história com um final feliz. Quanto ao mundo fora da floresta... Pessoas nos farão bem, o sol nos aquecerá, não ficaremos sozinhos e mudanças acontecerão.. Só depende do rumo que nós queremos dar à história...basta começarmos a escrever...
Acho que já comecei a minha..."