5.1.10

Súplica Oculta

Ela se perguntava diariamente se as coisas eram confusas apenas para ela. Não conseguia entender. Em seu coração as coisas sempre se mostravam embaralhadas, sua caixinha de sentimentos parecia chacoalhar a cada palavra que ele dizia. Seu coração havia sido colocado de “cabeça pra baixo”, disso ela já tinha certeza, não era normal a bipolaridade sentimental em que vivia.
Ouvia sua voz e Claves de Sol soavam de seu coração. Quando ele desaparecia, seus sentimentos saltavam da caixinha e o vazio era seu único companheiro. Às vezes o eco de algumas saudades ficava, para a sua felicidade, mas logo fugia da caixinha também e a pobre e confusa menina encontrava-se mais uma vez com os sentimentos revirados.
Procurava entender porque ele esquecia-se dela com tanta frequência. Não, ele não possuía sentimentos revoltos, eles eram bem treinados, não fugiam de sua caixinha, era o que ela achava e a idéia que persistia em sua brilhante cabecinha era a de que ele esquecia-se dela para que seus sentimentos ficassem longe dela - a convivência com os dela poderia torná-los revoltos também. Mas depois de algumas horas a perder-se em sonhos e ilusões, chegava à conclusão de que seus sentimentos também poderiam ser revoltos, assim como os dela, afinal eram tão parecidos, e quando fugiam de sua caixinha o único resistente era o “esquecer”, que sempre ficava para trás, detendo a caixinha só para ele, e tudo se explicava.
Ela não queria que as coisas fossem assim. Ela provocava seus sentimentos. Quando ouvia sua voz estática do outro lado preocupava-se. Seu coração pedia que ele fosse um boneco de pano – iria pegá-lo em seus braços e chamá-lo de seu bebê, cuidaria para que estivesse bem, sempre ao seu lado, sob seus aconchegantes olhos.
O medo de que suas preocupações se mostrassem maternalistas demais confundia seus pensamentos. E como fazia já com alguma frequência, depois de horas revirando seus pensamentos, sempre concluía que não gostaria de ser sua mãe ou sua dona.
Se fosse sua mãe, iria alimentá-lo, niná-lo e protegê-lo com toda sua alma, mas sabia que estaria criando-o para o mundo e não apenas para si mesma, seu egoísmo não permitiria tal façanha. Se fosse um pedaço de pano com pregas e botões, tê-lo-ia consigo para a eternidade, remendá-lo-ia e cuidaria para que estivesse sempre em ótimo estado, mas ela sabe que seria apenas sua dona e nada mais. Tê-lo-ia mas sem palavras, qualquer sentimento ou o som de seu coração, seria apenas ela e pedaços de pano. A parte em que o teria em seus braços para a eternidade muito lhe agrada, mas não haveria motivos para isso. Não sem o sangue circulando e pulsando seu coração.
Mas o pior é que, sempre depois de suas súplicas ocultas e divagações desnecessárias, ela sabe o quão
em vão isso tudo é, sabe que não há o que entender, sempre soube, são apenas sentimentos, sentimentos revoltos, não se pode explicar sentimentos, pode apenas sentí-los ou sonhar com eles - sim - sonhar com o dia em que ele lha ajudará a encontrar novamente seus sentimentos e juntos cuidarão para que não que não fujam mais, para que voltem a ser apenas sentimentos, aqueles velhos sentimentos, sentimentos presos em uma caixinha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário